Na década de oitenta, a inflação chegava a 30% ao mês, não dava para decorar
os preços de nada, tudo subia de uma semana para outra, alimentos caros, remédios
caros, vestuário caros.
Neste enredo de carestia, economizar era a palavra mais usada no dia a dia
de uma família de classe média, não podia deixar sobrar nada no prato, tirou da
panela teria que comer tudo.
Logo surge um personagem que atormentou minha vida, O MENININHO DA AFRICA.
- Mãe, não consigo comer mais, já estou cheio!
- Meu filho, come tudo... Porque lá na África tem um menininho que num tem
nada para comer...
Eita raiva desse menininho!!
Esse menininho da África me fez comer sem querer, até empanturrar, me fez
calçar sapatos furados por muito tempo, porque o menininho da longínqua África,
não tinha sapato, usei roupas rasgadas porque em um lugar remoto bem distante
tem uma porcaria de um menininho que num tem roupas pra vestir, o menininho da África.
Esse menininho da África que eu não conheci, nem conheço nem sei si vou
conhecer, já deve ter casado e morar ainda na África e com certeza ele deve
falar hoje para os filhos dele.
- Come meu filho, porque lá no Brasil tem um menininho que vai comer tudo se você não comer, e ele foi covardemente
forçado a comer sem querer por mim.
Outro dia falei pro Vanderlanzinho:
- Meu filho, come porque lá na África tem um menininho, que num tem nada pra
comer!
Fiquei pensando se era o mesmo menininho para ele, e p'ra você e pra todo mundo.
Os menininhos da Africa, sempre
existiram, para fazermos comer, assim como o homem do saco para fazer as crianças
não irem para rua, o monstro do armário, para as crianças dormirem rápido...
Porque havemos de conviver com o medo desde pequeno?
Boi da cara preta pega
essa menina que tem medo de careta!
Dorme neném que a cuca vai pegar!
A irmã Jovelina disse:
- O medo nos dá coragem!
Eu fiquei pensando.... Que porcaria é essa de medo nos dá coragem???
O MEDO me faz correr igual uma criança e tenho medo de poucas coisas, mas o
que eu tenho medo, ah ai eu tenho medo.
O medo deixa o nosso joelho bambo, uma vontade de correr, de fugir, o medo
nos deixa sem fôlego o medo é uma coisa que caramba, nos embranquece!
Tá bão, passamos no cemitério as doze e trinta e quatro da noite, para provar que não
tínhamos medo, pegamos em um tumulo qualquer, uma cruz e levamos para casa, a
noite fizemos uma fogueira e colocamos a cruz para queimar, isso foi em Nazario
década de setenta, a Cruz tinha um nome:
*Manoel Joaquim da Cruz Mendes.
Fomos dormir, fui a escola logo cedo, quando chegamos a vizinha da casa ao
lodo veio e disse:
- Teve um homem procurando por vocês ai hoje, ele queria algo que disse lhe pertencer,
disse que voltaria a noite, só deixou o nome dele, falou que era o Sr. Manoel
Joaquim da Cruz Mendes. Dormi no quarto da minha mãe. Sem fechar o olho!
AH o menininho da África?
Eu nem sei, mas a formigas gostaram do resto de mortadela que ficou no prato.
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