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domingo, 20 de novembro de 2011

Meu avó (devaneios)

                Nunca vi uma pessoa mais brava que meu avô materno, o nome dele é um desses nomes que serão extintos, são nomes ultrapassados que não se usa mais, ninguém vai batizar um filho de agora em diante de Saturnino... Esse era o nome dele, acho que os antepassados dele era de saturno e deixaram-no aqui numa cápsula embrionária, esta é a razão de ser Saturnino Vieira, ele era tão bravo que o Lampião uma
vez falou mal dele, eu acho que Lampião falou que ele falava igual ao Iris rezende, meu avô pegou um avião aqui no Goiás foi parar lá no Pernambuco, sozinho enfrentou a gang de Lampião, deu um safanão no pé da orelha de Lampião, e deixou Lampião chorando debaixo de um carvalho, Lampião falou para o resto do bando dele por muitos anos:
              -Não se meta com o aquele Saturnino, ele é  bravo DEMAIS DA CONTA...
              Esse era o charme do meu avô!!
              Meu avô criou os sete filhos com muita rigorosidade cabível na época, os alimentava com leite de onça, todo dia ele levantava cedo pegava uma onça, trazia ela para dentro de casa,  enquanto ela se esperneava e debatia meu avô tirava o leite, e depois soltava a bichinha, um dia eu falei pra ele:
             - VÔ, não é mais fácil o senhor deixar ela presa aqui no quintal?
             Ele disse:
             - Netinho, o bom é ir se atracar com a bicha e trazer

ela na marra, campear saber onde ela está, é correr atrás, é encurralar, é olhar nos olhos dela, e ver ela se definhando sabendo que eu que mando no pedaço!!   Eu gostava do jeito dele, ele sabia de cada coisa.
            Meu avô era carinhoso, um dia minha irmã Elizabete discordou dele, acho que ela falou que ele parecia o Iris Rezende, ele pegou a enxada e saiu correndo atrás dela p'ra matar, e ela correu p'ra caramba...  Mas ele era muito carinhoso e compreensivo!
            Um dia ele pediu para o motorista parar antes do ponto, pois ficava mais perto da casa dele, o motorista falou:
           - Só posso para no ponto de ônibus...
           Ele pegou um litro de leite que estava trazendo da cidade de Nazario, quebrou na cabeça do motorista e disse:
           - Ou você para este ônibus aqui, ou eu acabo com sua vida ai mesmo nesta poltrona!  O motorista parou no lugar onde ele pediu, pela compreensão do meu avô. Os cobradores de ônibus usavam uniforme, um dia um falou para ele, na próxima viagem eu te dou o troco que resta, foi nada não, no próximo ônibus que meu vô pegou, ele falou:
           - Cadê meu troco?  Fiquei com pena do cobrador ter que explicar, e ele achou por bem dar o troco para o meu avô.
          Meu avô falava que tudo na vida é o costume, o costume do cachimbo torto que entorta os lábios, a gente se acostuma com tudo nesta vida e me contou:
           Certa vez nasceu um bezerro na roça, ele foi campear e achou o bezerro deitado há dois quilômetros do curral, pegou o bezerro nas costa e andou os dois quilômetros com o bezerro, o bezerro fiou tão manhoso que todos os dias meu avô tinha que buscar  o bezerro no mesmo lugar, e o bezerro

foi crescendo, crescendo e depois de dois anos o bichinho com a mesma mania, o povo encabulava de ver meu avô chegar no pasto pegar o Touro colocar no pescoço e levar para o curral, um dia na mudança de fazenda, meu avô ficou com raiva do touro que num queria entrar no gaiolão, ele pegou o bicho nos ombros e falou para o pessoal do caminhão:
          - Pode ir à frente, eu levo este aqui no pescoço, e foi meu vô os 235km com o touro erado no ombro, quem olhava nem imaginava o que o costume faz...
           Na fazenda nova, não havia água na porta, existia uma nascente de água na serra que ficava longe da sede, criativo como era, ele pegou algumas madeiras e construiu uma bica, com telhas estilo de calha, e fez o curso da água vir por cima da calha atravessar um quilometro e meio, e chegar por cima do quintal, onde a calha e a madeira mostrava o percurso da água, e tinha água agora na porta de casa, onde minha avó Sebastiana lavava as vasilhas, passou o tempo e o tempo passou, a madeira que dava sustento as telhas em forma de calha, apodreceram e caíram, e as telhas desmoronaram, mas água já tinha costume de passar por ali, e mesmo sem a bica, a água vinha até a porta da casa sem desviar o percurso, porque costume é costume.
            Pois bem, meu avô tinha costume de colher arroz em cima de um cavalo meio amarelado com uma pelagem linda, que meu avô cuidava com zelo sempre bem escovada,  era mansinha que só vendo. De cima do cavalo, ele com o cutelo abaixava e cortava o arroz e colocava na canga, cortava e colocava, e assim seguia bem rápido, quando enchia a canga, ele ia até o batedouro e despejava o arroz no giral onde mais tarde seria batido. Um belo dia meu avô de cima do animalzinho, com o cutelo, desviou a atenção e sem querer golpeou o pescoço do animal, ele ficou pasmo ao ver o pescoço do bicho caído no chão e de subido numa rapidez que só ele tinha, desceu correndo e pegou o pescoço do animalzinho e colou ligeiramente no lugar antes que o sangue coagulasse, no ímpeto ele nem observou que colou o pescoço virado com a boca para cima e as orelhas para baixo, ele tentou tirar, mas não conseguiu, e com a cicatrização, pode ser ver por muitos anos o cavalo andando no pasto de cabeça para cima.
              Eu perguntei ao meu avô:
               - Vô, onde é que esse cavalo tomava água meu Deus do céu?
              Ele respondeu
             - Meu neto, tudo nesse mundo é perfeito, ele tomava água lá na bica que quebrara e por costume a água flutuava, entrava debaixo e tomava a vontade...
              Meu avô!!


4 comentários:

  1. Lizabete... lembra dele?

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  2. na verdade quem correu atráz de mim com a enxada foi o ti Antonio (irmão da minha mãe) quando ele morava em frente a nossa casa lá em Nazário isso porque eu queria bater na lenita e ele entrou na briga pra defendê-la já q meu pai e minha mãe tinham saído e a gente tava só...
    um dia tava todos os parentes na casa do meu avô Saturnino e eles queriam ouvir eu cantando com minha mãe mas eu não queria cantar e fui brincar no fundo do quintal então ele correu atrás de mim pra me bater e então eu subi num pé de manga e ......
    outro dia a minha mãe deixou a gente na casa dele e ele foi fazer o almoço e eu tava teimando com ele e então ele tava com uma colher (concha) amassando o feijão e sentou a colher na minha cabeça......
    mas de vês em quando ele passava pra ser crente e como o costume da assembleia era de colocar o novo reconciliado 2 meses de prova pra entrar em comunhão ele disse: ou vocês me pôe em comunhão agora ou eu largo de ser crente....
    mas quando meu pai fez a casa da terezinha no santa genoveva o meu avo era o servente dele e eles competiam pra ver quem era mais forte e como sempre meu pai ganhava e ele queria matar meu pai por causa disso...

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  3. kkkkkkkkkkkkkkkkk... meu avô era brabo mesmo n´? gostei das historias!!

    vamu ver se o Fanuel lembra de alguma coisa

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